Queremos guerra!


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Estamos procurando por uma guerra. Uma guerra civil aberta, deflagrada, que não a tivemos.

Ansiamos por ela, é um desejo latente, inconfesso, obsceno. Queremos a guerra que nunca tivemos, queremos acertar as contas uns com os outros, queremos apagar o vizinho diferente, esquisito, o vizinho que nos incomoda. Exterminá-lo.

Queremos a guerra civil, isto é um fato. Queremos uma guerra em sua plenitude: o horror supremo, completo, total. Queremos sentir a nossa bestialidade incontrolada, livre das amarras incômodas da civilização e da cultura, que essas são coisas de viado e de mulherzinha. Queremos dar vazão ao ódio incompreensível que nos consome dia após dia, vê-lo fluir caudaloso, incessante, devastando a tudo o que se opuser a ele. Que nosso ódio seja a matéria prima de um novo Brasil.

Queremos o mundo mais simples, mais fácil de se entender. Complexidade é coisa desse povo LGBT e de feminazis. Antigamente, claro, era melhor.

Queremos o mundo dos homens de bem. Queremos os homens de bem contra os comunistas, homens de bem contra os defensores de bandidos (“direitos humanos para humanos direitos”, sempre!), homens de bem contra defensores de pretos vitimistas, contra ecochatos canalhas que atrapalham o progresso, homens de bem contra os petralhas, essa raça maldita que não merece respirar. Homens de bem contra a escória, contra o lixo que não merece viver.

Queremos cheirar Bolsonaro, fumar Bolsonaro, injetar Bolsonaro, devorar Bolsonaro, fazer sexo com Bolsonaro, ser Bolsonaro. Queremos um Brasil só de Bolsonaros, prontos para o futuro ofuscante que o nosso ódio arquitetou.

Queremos a nossa fantástica classe média contra suas domésticas petulantes, atrevidas. Queremos nossos empresários gestores tomando as rédeas da situação, colocando os trabalhadores nos seus devidos lugares, quietos e mansos. Bovinos.

Queremos o Brasil de nossos avós, de nossos tataravôs, um Brasil no qual cada um sabia qual era o seu lugar, onde havia ordem e respeito e ninguém cantava “eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci, e poder me orgulhar, e ter a consciência que o pobre tem seu lugar”. Como se isso fosse música e lugar de pobre fosse outro que não a senzala

Queremos uma guerra civil nossa, brasileira. Uma guerra na qual a coragem só surge quando estamos reunidos bandos, em hordas rábicas. Uma guerra em que se ataca pelas costas, em tocaias. Uma guerra traiçoeira, que é mais a nossa cara. Uma guerra em que exterminamos e nos sentimos puros, justificados. Libertos da própria consciência, que consciência é coisa de ateu.

Queremos a guerra. Queremos exterminar. Queremos sentir nosso ódio fluir.

About the author

Marcos Schmidt

Marcos Schmidt é designer gráfico e ilustrador. Vive e trabalha na irremediável cidade de São Paulo.

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