Revisionismo


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Foi Jânio de Freitas quem levantou a bola: supremacista é um eufemismo para racista. A ombudsman da Folha levantou os dados e eles são eloquentes: a primeira menção da palavra é dos anos 60s, uma única vez. Volta à baila no pós-11 de setembro de 2001 e multiplica-se a partir de 2015, chegando a mais de 60 menções já em 2017.

Fico curioso em saber como um termo desses é enxertado em nossa linguagem. Desfilam na rua os racistas empunhando suas bandeiras e vomitando seus slogans, e certa imprensa noticia: marcha de supremacistas reúne milhares de pessoas. São milhares de racistas, mas não é de bom tom chamar certas coisas pelo nome.

Essa espécie de eufemismo tem uma função clara: é tornar palatável uma ideia repugnante. É confundir e enevoar conceitos. Não por acaso, é um movimento semelhante ao dos nossos partidos políticos que mudam de nome, exatamente para confundir e prejudicar a comunicação, contando com o mal-entendido para a sua sobrevivência. Daí que um partido como o ex-PP pretende chamar-se Progressistas, como que para encobrir o fato de que o partido em questão é uma garantia completa de conservadorismo, patrimonialismo e atraso. Ou, num escracho semântico absoluto, o PFL muda seu nome para Democratas. Mas é exatamente esse tipo de ruído que os interessa.

Da mesma forma se dá a proposital confusão gerada pelos reacionários xucros (pleonasmo?) com relação ao nazismo: esses apedeutas do retrocesso querem vender a ideia de que o partido de Hitler era de esquerda por causa do “social” que há na denominação (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães). Má-fé e ignorância juntas produzem um fedor enorme, mas quem costuma propagar esse tipo de ideia está acostumado com o lodo. A Hitler o que é de Hitler e a Stálin o que é de Stálin.

Revisionismo semelhante acontece na batalha por corações e mentes brazucas. Tem feito algum barulho o canal Brasil Paralelo, no YouTube, que pretende reescrever a história do Brasil em termos que parecem ditados por alguma TFP sulista. Assusta-me porque são jovens e raivosos. E porque tem encontrado público numa certa classe média também raivosa, atrasada e pouco afeita aos livros, digamos.

Quem narra a história é quem está por cima da carne seca, e quem dá as cartas no momento é essa nova direita desinibida e sem freios. Noutro momento será a esquerda, suponho, e a história será contada de outra maneira, com outras intenções e pressupostos inconfessáveis (porque sempre o são).

Impossível de revisar, de tornar palatável, de suavizar num eufemismo, é a imagem de crianças enjauladas, separadas dos pais imigrantes por determinação de um governo cujo líder máximo é um ser humano arrogante, vaidoso, egocêntrico e repulsivo, cujas ações encontram respaldo em milhões de pessoas, seus eleitores e simpatizantes do mundo todo, que pensam exatamente como ele. Com o tétrico detalhe de que a justificativa para tal ato foi buscada e encontrada na Bíblia, o livro que algumas pessoas chamam de sagrado.

As imagens são claras. Interpretá-las é um exercício de obviedade, e até mesmo supremacistas cristãos, muitas vezes monarquistas, como os nossos, terão dificuldade em distorcê-las.

About the author

Marcos Schmidt

Marcos Schmidt é designer gráfico e ilustrador. Vive e trabalha na irremediável cidade de São Paulo.

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