Maria por trás dos rótulos


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Vivemos em uma sociedade machista, isso é fato. Somos teoricamente organizados no núcleo familiar padrão com um pai chefe de família, uma mãe resignada e filhos comportados, todos cumpridores da moral e dos bons costumes. Moças que aprendem a cozer, moços que mexem em seus carros, suas motocicletas e trabalham cedo.  Não, não vivemos em um filme americano que retrate os anos 60, felizmente. E nem tudo que critica ou rotula é machismo, o feminismo se aproveita dessa técnica também.

As coisas caminham por uma estrada tortuosa, dentro de um quadro – muitas vezes belo no relance – onde o que não é branco é definitivamente preto. Esquecemos os inúmeros tons que os olhos humanos enxergam quiçá os que nossos humildes olhos não conseguem ver. Ou se é machista, ou feminista. Ponto. Na minha humilde interpretação, de uma mulher, que não se encaixa nesse feminismo ou nesse machismo, os tons de cinza e demais cores parecem muito mais interessantes.

Para definir, elogiar e comentar sobre uma mulher alguns adjetivos são inaceitáveis – para o feminismo de plantão – partes do corpo, aparência física, comportamentos aparentemente resilientes e habilidades como cozer, cozinhar ou bordar são contraindicados. A mulher deixou de ser tudo que foi para ser forte e independente.

Pedir colo, gostar de um carinho, sofrer por desilusão, ser emotiva, sensível, sensitiva, delicada ou atrapalhada e buscar um grande amor não nos cabe mais. Aos homens não cabem os mesmo sentimentos, como nunca couberam. Não há espaço para ser “piriguete”, “monogâmica”, santa nem puta. Não queremos ser admiradas por sermos mulheres, nem que isso seja positivamente, ou de forma inocente, somos fortes e independentes, assim agora são as mulheres.

Não há porque ter espelhos, vaidades ou medos, fortes e independentes como os homens dos anos 60 nos filmes americanos. A poesia morreu com elas, a dureza da vida feminina ficou mais forte que nossa doçura em potencial, que um riso de Dinorah para Ivan Lins, os olhares das mulheres para Vinícius de Moraes, ou a dor de amor para Chico Buarque.

Todos estes são homens ávidos por compreender o que é ter sobressaltado uma alma feminina, cada um ao seu modo; mas isso não cabe mais, infelizmente. Machistas de plantão não se abalam; nada sustenta mais sarcasmos que um discurso avesso a eles, é provocativo, é disso que eles gostam.

Mas enquanto isso, do outro lado da trincheira homens com femininos gritantes sofrem como as mulheres que trancam em si o feminino execrado pelo amor poligâmico – que nem sempre se acompanha de amor – pela força de não se envolver sentimentalmente, pelo medo atual de chorar, e o pavor de parecer algo diferente do forte e independente.

Sou mulher, sou forte e independente. O gosto não é bom, cada vez que Maria se vê sem os rótulos, está sozinha, é a mesma garota perdida que criou força para não lidar com sentimentos. Invejo os homens sensíveis e não sou vadia, como nossas feministas. Sou livre para amar um homem só, sou livre para me desamarrar dos rótulos que me grudam e aprender a ser mulher a cada dia. Afinal a gente nasce assim, e vem a pintura monocromática nos castrar.

Mulheres dos anos 60, 70, 80, 90, 2000 em diante amam seus clitóris e seus amores, com toda a sensibilidade e companheirismo que podem nos oferecer. Pois sofrer por ser mulher dói menos que continuar tentando ser um homem a moda antiga. As feministas que se vejam, os anos passam, a vida passa, mas a ternura não faz parte da mulher forte e independente, felizmente.

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Stella D´Agostini