Espero que onde você esta seja melhor do que aquí

Morsal uma jovem adolescente alemã-afegana queria viver a vida como todas de suas idade: passear com amigos, ir à discoteca, usar roupa da moda, namorar…

 

 

Noite de 1 novembro de 2006: Os policiais foram chamados para uma emergência num bairro de Hamburgo. No prontuário policial: Morsal, uma alemã-afenaga tinha sido espancada por seu irmão e sua irmã. Por ser menor de idade o caso foi anotado em outro prontuário do Serviço para a Juventude.

 

Em 8 de novembro: Morsal foi novamente maltradata por seu irmão. Ele a espancou no rosto e a ameaçou com uma faca. Morsal o denunciou a polícia.

Tres meses após o ocorrido o Juiz inicia a apuração do caso até hoje não concluido.

 

6 de janeiro de 2007: Morsal foi agredida por sua irmã. Novamente Morsal faz a denuncia da irmã.

 

19 de janeiro de 2007: Morsal foi agredida a chutes por seu irmão, porque a roupa que ela usava não o agradava. A polícia foi chamada. Novamente a denúncia de maus tratos foi protocolada…

 

14 de fevereiro de 2007: o Juiz dá queixa do pai e da mãe de Morsal por terem agredido a filha. Morsal retira a queixa contra os seus pais e processo não foi à frente.

 

Em março de 2007: Morsal foi enviada ao Afeganistão para a casa dos parentes. De volta relata na polícia.

 

23 de março de 2008: Foi novamente amaltrada pelo irmão e pela irmã mais velha, tentaram enforca-la, arrancaram lhe os cabelos e a ameaçaram de morte com uma faca. Não houve qualquer denúncia contra os irmãos.

 

28 de março a polícia foi chamada: Morsal foi agredida na face diante dos policiais pelo irmão e irmã.

 

29 abril : O processo foi entregue ao juiz e iniciada a investigação. Morsal foi para o abrigo de mulheres. Ela não quis denunciar os irmãos.

 

11 de maio : Regressa à casa dos seus pais que voltam a agredi-la com pontapés. Ela volta para o abrigo de mulheres e no mesmo dia foi liberada de volta à sua casa.

 

15 de maio: Depois de uma briga, quando foi novamente espancada, Morsal foge pela janela, por uma corda feita com o lençol da cama. Foi agarrada pelo irmão menor que tentou enforca-la

 

16 de maio: O irmão desfere 20 facadas contra o peito da irmã num estacionamento em Hamburgo.

 

Para Morsal

Assista aquí uma homenagem a Morsal em alemão, mas para bom entededor, um pingo é letra: http://www.youtube.com/watch?v=ao4lLwqCcFo&feature=related

 

A História

 

No dia de sua morte Morsal foi agredida por sua mãe com fios de luz deixando marcas em todo o corpo. Era o dia em que os pais foram chamados para depor. Marsal não sabia que os pais tinham recebido uma carta de intimação para comparecerem à polícia.

 

A 13 anos a familia imigrou para Alemanha. O pai era perseguido político no Afeganistão e agora vive uma dupla tragédia: a morte da filha e o filho na cadeia.

Quando a família chegou na Alemanha o Ahmed tinha 10 anos e Morsal 3.

Morsal filha mais jovem de 5 filhos crescida na Alemanha queria ter uma vida normal como todas as garotas de sua idade, vestir roupa da moda, encontrar com amigos e ter namorados. Os seus pais não concordavam com seu estilo de vida e chegaram a envia-la para o Afeganistão para que ela “conhecesse o estilo de vida de seus antepassados”.

 

Mas ele do sexo masculino podia tudo. O irmão assassino chamado Ahmad O. tem 23 anos leva uma vida de “estilo ocidental”, vai a festas e consume álcool. Em fevereiro de 2004 envolvido numa briga foi vítima de facadas num bordel de Hamburgo.

Pois quatro anos mais tarde aproveitando um encontro de sua irmã com um primo, desfecha 20 facadas contra o peito de Morsal. O motivo alegado é que ela horas antes Morsal foi vista em companhia masculina. E ele nunca foi repreendido pelos pais pela vida que levava.

 

No caso Morsal a justica esta sendo acusada de negligência. O irmão, considerado perigoso e com diversas passagens pela polícia por ter praticado violência contra irma já deveria a muito ter sido detido e julgado e não ainda estar solto.

 

Apesar de todo o calvário de Morsal estar documentado nos prontuários da polícia da Hamburgo a justica não reagiu a tempo. Os políticos e juristas aproveitam a tribuna para acusarem-se mutuamente ou desculparem-se mutualmente. Viviane Septhmann da direita CDU acha que no caso foi “muito bem trabalhado” dizendo que “Não havia provas concretas (para uma enérgica intervenção da justica no caso), pois Morsal retirou as queixas contra a família” e acrescenta: É inaceitável como alguns seres humanos de outras culturas pisam no nosso Estado de Direito e no nosso sistema jurídico”. A oposição exige esclarecimentos. Enquanto os políticos discutem, este podera não ser o último dos 40 casos resgistrados na Alemanha em seis anos dos crimes denominados “em nome da honra”.

Será que n`Este País-Alemanha pode acontecer uma coisa dessas?

A resposta é não. Mas o Departamento de Servico Social se disse mau preparado e não ha pessoal especializado para tratar de conflitos das famílias de imigrantes. E eu acrescendo: E os casos vão ficando por isso mesmo.

 

Nos vivemos na Alemanha, mas temos duas culturas

 

Assim se definiu um jovem entrevistado na Rádio Funkhaus Europa. Ele já disse tudo. Na Alemanha a maior comunidade de afeganos 20.000 vive em Hamburgo. São cidadãos que transitam entre dois mundos. De uma lado convivem com as tradições de seu país, um mundo patricarcal com severas regras de comportmento para as mulheres, onde os ecos da libertação feminina nunca chegaram e de outro lado vivem os valores culturais da sociedade moderna alemã.

 

Num depoimento uma vizinha, também afegana na tv: “-Ela não podia sujar e envergonhar o nome da família. E o irmão tinha que zelar pelo nome da família. Ele não teve outra escolha em matar a irmã. Perguntada se o irmão era culpado da morte da irmã, ela clara e veemente negou: “-Não, em nossa cultura ele não é culpado. Nós temos que preservar a nossa cultura” Ela disse isso n`Este Pais-Alemanha onde ela vive e provavelmente educa ou educará os seus próprios filhos!

 

Como ja tratei aquí em outros artigos “Integrar para não desintegrar” e em “Alice não mora no país das maravilhas” a Alemanha e outros países da Europa vivem conflitos que pareciam já superados, como a questão da igualdade das mulheres. Para um europeu é inadimissível como as mulheres nos paises árabes e no mundo muçulmano são tratadas, onde são impedidas de irem à escola, de sairem as ruas, de exercerem os seus direitos de cidadania e precisarem se cobrir da cabeça aos pés para sairem de casa acompanhadas, andando 3 passos atras dos maridos.

 

Papatya

 

Papatya é a uma organizacao de mulheres turcas-alemas, aos moldes como existe em outros paises da Europa como na Holanda ou Inglaterra de ajuda mútua atendendo mulheres muçulmanas, a maioria de origem turca, mas também de outros paises, em caso de violência familiar. Em 15 anos de experiência com jovens mulheres ja assistiu mais de 1000 jovens entre 13 e 21 anos. Lá elas tem ajuda de profissionais de diversas áreas como jurídica e psicológica. São mais 70 mulheres atendidas a cada ano. Eles atuam diretamente em casos graves de conflitos familiares entre jovens e suas famílias proporcionando ajuda e proteção e em casos extremos as jovens são conduzidas a um dos 8 abrigos em Berlin (Papatya atua principalmente em Berlin).

 

Freqüentemente dentro de suas famílias as meninas são proibidas de manter contato com outras pessoas e às vezes são literalmente trancafiadas em suas casas. É difícil imaginar quantas meninas e jovens sofrem dentro do círculo da cultura muçulmana. Namorados? Absolutamente nem pensar! A educação patriarcal as reduz somente em cumprir as obrigações domésticas, cuidar os imãos menores. Muitas delas sofrem violencia sexual nos chamados “casamentos arranjados”. 30% das jovens atendidas no Papatya foram ameacadas, por resistirem ao casamento arranjado, contrariando a vontade dos pais, em que o futuro marido é pré-escolhido. Mas Papatya diz que não há direferença de tratamento das jovens mulheres entre as famílias paquistanesas vivendo em Londres ou de uma família de marrocanos na França. A situação é complexa: Os conflitos religiosos juntam-se a outros componentes culturais e que se misturam com conflitos familiares causando as tragédias vividas pelas jovens em paises europeus.

 

Enquanto isso n`Este País-Alemanha…

 

Ahmed O. está preso e será julgado pelas leis alemãs. A pena para esses casos é de prisão perpétua o que aquí significa que depois de 15 anos ele poderá ser solto.

 

No quadro de aviso da escola onde Morsal cursava o ginásio uma de suas colegas escreveu: Eu espero que onde você esta seja melhor do que aquí.

 

 

Fonte:

Die Welt

Zentralrat der Ex-Muslime.

Abendblatt- Ein Skandal! Opposition greift Behörden an.

Papatya- Türkisch Deutscher Frauen Verein

Afghanen in Hamburg über den „Ehenmord“ in Funkhaus Europa.

About the author

Solange Ayres