Integrar para não desintegrar


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A criminalidade entre jovens estrangeiros na Alemanha aumentou em muito nos últimos 12 anos. Os políticos usam os argumentos para reforçar ainda mais o preconceito contra estrangeiro. Simplificar os fatos não ajuda entender o porque da violência de hoje.Voltemos aos anos 50 e 60, foi la que começou a história.

Antes do carnaval oficialmente ter o início o candidato a ministro Koch fez o favor de colocar o bloco na rua no que diz respeito ao tema violência e estrageiro e vivenciar antes ainda do carnaval terminar um clima de quarta de cinzas com a perda de 12% votos nas eleições do Estado de Hessen. O discurso populista e de cunho racista ia na direção: jovens estrangeiros iguais a criminosos. Nas propostas para os ouvidos dos seguidores do CDU, Democracia Cristã de Angela Merkel, o Estado teria que aperfeiçoar as leis para que aqueles jovens estrangeiros que cometerem crimes sejam de imediato deportados.

A discussão sempre vem à tona quando algum fato, como a agressão de jovens turco e grego a um idoso na estação de trem em Munique, mas os porquê que ha tanto jovem filho de estrangeiro nas estatísticas de criminalidade não é mencionado. De fato os números estão la e não da para esconder: a criminalidade no grupo de jovens estrangeiros residentes na Alemanha entre 18-21 anos tem aumentado desde 94 até 2006 em 84%. Simplificar os fatos não ajuda a entender e sim olhar para o passado, la que os problemas começaram.

Solução e problema

Nos anos 50 e 60 a tentativa de solucionar um problema de falta de mão de obra no pós-guerra Alemanha gerou outro. Trabalhadores de paises vizinhos foram convidados a trabalhar na Alemanha, os “Gastarbeiters”, isto é trabalhadores convidados. Desses imigrantes não eram exigidos qualificação profissional nem falar a língua alemã e eles foram trabalhar onde faltava braço: fábricas, construção civil, etc

Os alemães acharam a “solução” para o deficit de mão de obra, mas criaram uma bomba de tempo. A aqueles cidadãos não foi dada na época nenhuma alternativa para que se integrassem de fato à sociedade alemã. Os alemães pensaram que depois que os imigrantes “cumprissem o seu trabalho”, iriam voltar para os respectivos paises de origem, Itália, Portugal,Turquia.

Claro que muitos voltaram, mas a grande maioria foi ficando, construindo aquí suas famílias e gerando filhos e que de alguma forma assimilaram a cultura alemã, digo, de alguma forma. A segunda e terceira geração de filhos de imigrantes teem dificuldades com a língua alemã, muitos falam, mas não escrevem corretamente, tem as piores notas na escola não conseguem terminar uma qualificação profissional, são os mais suceptíveis ao desemprego no futuro e conseqüente marginalização.

Isolados nos guetos vivem até hoje numa sociedade “paralela” falando somente a língua de sua terra de origem. Em Colônia por exemplo ha bairros onde a maioria é turca, supermercado turco, tudo em turco. Os turcos que moram la, principalmente velha geração, não precisam falar alemão e permanecem entre si sem comunicar com o resto do pais.

Qual as chances de um jovem, numa sociedade competiviva de hoje, no meio da Europa de conseguir um emprego qualificado? Poucas. Assim ja estamos na 3ª geração e aqueles filhos de imigrantes estão em clara desvantagens. Não é à toa que as estatísticas de violência e criminalidade entre filhos de estrangeiros é alta. Os políticos, esses só reunem os últimos argumentos e jogam o debate para a sociedade: jovem estrangeiro: deportação, como se isso fosse a solução para o problema.

Mas o contingente de jovens que cometem crimes não são somente turcos, mas também imigrantes provindos dos paises do antigo Leste. Outra história recende de imigração os“Aussiedlers”, russos cujos os parentes, avós, bisavós que imigraram para a Russia a quase dois séculos e que agora puderam voltar para a Alemanha atraves de acordo que foi feito nos tempos de Catarina a Grande no século 18. O acordo permite até hoje que os descendentes de alemães possam voltar para a Alemanha e ter passaporte alemão.

Em 1996 onda de imigração russa atingiu o seu ponto alto, com a desestruturação da antiga União Soviética e hoje cerca de 2 milhões deles vivem aquí. Imaginem que muitos vieram para a alemanha não falavam o alemão e os jovens hoje teem os mesmos problemas com a língua como os outros imigrantes.

Quem são os imigrantes

Um quinto da população alemã é estrageira ou tem familiares estrangeiros. Segundo estatísticas em 2010, não muito longe, nas grandes cidades a cada 2 cidadãos abaixo de 40 anos sera de origem estrageira.

Do total de habitantes 82.469.500, 83% é alemão, 8% estrageiro e 9% de origem estrangeira.

Dos 8% de estrangeiros a composição fica assim: 26,3% são turcos, 8,2% italianos, 7,6 iugoslavos, sérvios, montenegrinos, 4,7 gregos, 4,3 poloneses,14,2 % outros paises da Comunidade Européia, 31,4 % procedentes de outros paises que não da Comunidade Européia. Vejamos aí que o maior contingente é de turcos e origem religiosa muçulmana.

Dos 6,7 milhões de estrangeiros registrados (dados de 2005) 21% nasceram aquí, l,4 milhões, sendo que um terço do total vivem a mais de 20 anos na Alemanha.

Choque das culturas

Num contexto de imigração a alemanha não esta sozinha. Sem um programa claro para integrar os imigrantes, outros paises europeus como a Franca, Espanha também tem vivido conflitos, principalmente com a população de imigrantes turcos, árabes, marrocanos que veem de outra cultura e praticam outra religião. La no mundo árabe os direitos humanos é palavra desconhecida e quiçá o direito das mulheres. Os círculos mais radicais de praticantes da religião muçulmana, revindicam para suas filhas tratamento diferenciado nas escolas, como aulas de natação separadas dos meninos. Para se ter uma idéia, aquí um pai de menina turca tentou tirar a filha da escola porque nas aulas de natação as meninas teriam que usarem maiô. Ainda, pais proibindo as filhas de freqüentarem as aulas de biologia, pois la eram mostrados desenhos dos órgãos genitais nas aulas de reprodução.

Nem me falem dos casamentos por conveniência acontecem que acontecem; os pais são quem decidem com quem as filhas devem se casar. Eu conheço dois exemplos clássicos, duas irmãs, minhas colegas de trabalho, cujos pais, imigrantes turcos dos anos 50, arrajaram casamento com dois turcos la na Turquia, que só falam turco e agora moram na Alemanha. Uma delas me confessou que o marido não tem tempo de estudar alemão. O patrão da firma de limpeza onde trabalha sentenciou: ou trabalha ou estuda. Ele prefere trabalhar que aprender alemão e claro só conseguira trabalho desqualificado de menor remuneração. Ah, os netos são educados pela avó, que pouco fala alemão, ja que a mãe tem que trabalhar. O ciclo se fecha e a terceria geração ja esta aquí predestinada.

Para o cidadão europeu estes episódios não passam no quadro cultural da civilização européia ainda mais na história da emancipação das mulheres.

Integrar para não desintegrar

Numa pais com sérios problemas demográficos como a Alemanha, a imigração deveria ser tratada como “a grande chance” dessa sociedade de se “rejuvenescer” em todos os sentidos, não somente na produção de bens, mas de se desenvolver em direção a uma sociedade multicultural como a Europa ja é. Negar a realidade é um erro e não contribui para a integração de fato dos imigrantes. Aquí os políticos abriram o olho tarde. Os problemas causados por uma falta de políticas para integrar os imigrantes e os filhos de imigrantes na sociedade alemã, aumenta a cada dia. Essa brava gente que fez o pais crescer no pós-guerra, quando a Alemanha estava literalmente em cacos até hoje não tem direito de votar, mas interessantemente pagam aquí regularmente os impostos como todo alemão.

Integração não precisa ser sinônimo de “entregar” de esquecer suas origens e tentar ser alemão ou outra nacionalidade qualquer, porque os imigrantes, pelo menos de primeira geração nunca o serão. Integração também não pode ser uma via de mão única. Ser imigrante não é somente ter direitos, mas também que tem que fazer a sua parte assumir responsabilidades sociais, respeitar as regras de convivência do pais que escolheu para trabalhar, morar, ser tolerante e antes de tudo aprender se comunicar na língua.

Integrando

Neste contexto político só resta remendar. Nas escolas, nos clubes de futebol, centro de jovens ha inúmeros programas educacionais para os jovens imigrantes em idade escolar. Para para os adultos que querem adquirir o passaporte alemão o Estado esta oferecendo cursos de direitos básicos, cidadania, legislação, cultura, história e curso básico de alemão no projeto de Integração. No programa também esta bem claro, fortalecer o direito de igualdade das mulheres. No final os participantes receberão um certificado de participação e o passaporte e claro terão o direito de votar. Sera o suficiente para se considerarem “integrados”?

Últimas, Últimas

Na última semana o clima esquentou ainda mais com os acontecimentos em Ludwigshafen, quando em um bloco de apartamentos onde 9 pessoas de origem turcas morreram num incêndio. Em uma visita ja programada o primeiro ministro turco Recep Tayyip Erdogan num discurso em Colônia para 16.000 turcos, não só da alemanha, mas vindos para o evento da Bélgica e Holanda, França disse que a “assimilação”(cultural) era um crime contra a humanidade” jogando ainda mais lenha da fogueira da discussão da integração. E pediu que a alemanha construisse escolas e universidade para os turcos. O fogo esta aceso e continuará queimando.

Voltarei ao assunto no: “Gente que faz Este Pais – Alemanha”

Fonte: Die Bundesregierung on-line,
Ausländerzentralregister/2005,
Heimatforum, Ausländerkriminalität /Zur aktuellen Debatte 2008.

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Solange Ayres