Esses Alemães Inventivos e Suas Máquinas (não tão) Maravilhosas


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O filho do vizinho está construindo uma casa ao lado do nosso prédio. Faz mais de dois anos que moramos aqui, e eles já tinham começado a construí-la muito antes de nos mudarmos para cá. Quer dizer, eles já estão construindo a tal casa por quase três anos.

Por mim eles poderiam levar até 10 anos modelando e remodelando a casa, não tenho nada com isso, mas o problema é o barulho. E quem constrói casa por conta própria – ou seja, põe literalmente a mão na massa, como muitos alemães fazem – tem que trabalhar na construção só nas horas vagas: nos fins de semana, nos feriados, depois do expediente, e durante todos aqueles momentos em que desejamos silêncio, mas o vizinho quer construir.
 
E quando não constroem, eles sempre encontram um jeitinho de fazer barulho. Afinal, alemão tem máquina pra tudo. E quando digo tudo, quero dizer tudo mesmo. Até para as coisas mais ilógicas e banais. Maquinetas que nunca pensaríamos existir, simplesmente por parecerem ridículas demais para serem criadas, produzidas, vendidas e usadas pela comunidade, mas estão em todos os lugares. Para mim, elas são uma praga muitas vezes desnecessária.
 
Por exemplo, anda chovendo muito, a grama – dizem – cresce quase à velocidade da luz. Por isso o vizinho tem que ligar o moedor de grama pelo menos uma vez por semana, bem na hora que estou trabalhando, tentando me concentrar, ou desejando tirar um cochilo. Tudo bem, concordo que cortar a grama é necessário, e que o moedor é uma máquina genial. Mas é uma máquina genial, que faz um barulho fe-no-me-nal, própria para quintais grandes ou campos de futebol, e não um canteiro de pequenas proporções. Pelo que sei, ainda há metodos de poda menos barulhentos e até mesmo mais ecologicamente corretos, pois não requerem o uso de energia elétrica – dia desses vi um senhor usando uma foice, o que é nostálgico e assustador ao mesmo tempo, mas bem mais silencioso. No entanto, a maioria que tem uma graminha na porta de casa compra um moedor barulhento dos infernos. Dizem que a culpa é de um tal instinto masculino, que anseia pelo uso de máquinas que fazem vrum-vrum. Para mim é instinto mesmo. Instinto tribal, neandertal, primitivo, infantil… Ah! Melhor deixar isso prá lá. Deixa os meninos brincarem com suas jeringonças maravilhosas.
 
Mas daí, certo dia, caminhando pelo parque numa tarde de outono, deparo-me com uma das máquinas mais estapafúrdias já postas em uso por uma prefeitura: um assoprador de folhas. Sim, uma máquina portátil que sopra as folhas. Aí, ao invés de varrê-las ou juntá-las com um rastelo, o encarregado da limpeza urbana – ou lixeiro – sopra as folhas daqui e dalí até formar uma montanha delas. Se ele não for muito cuidadoso, pode criar uma sujeira bem maior que a anterior. Então, para concluir, o assoprador só não é menos eficiente do que a vassoura e o rastelo porque o barulho que ele emite dá a impressão de que alí há alguém trabalhando realmente muito duro. Além do mais, a tal máquina gasta eletricidade – claro – e gastos são a prova concreta de que trabalho está sendo consumado.
 
Dentro de casa a situação não melhora. A quantidade de bugigangas elétricas que uma família da classe média consegue adquirir por ano é inacreditável. E a maioria desses "gadgets" são, na sua maioria, completamente inúteis. Por exemplo, uma tal máquina de caputino que nada mais faz além de misturar o leite com o café e produzir uma quantidade risível de espuma. A pergunta que não quer calar é: precisamos realmente da espuma? Sem ela o sabor não é o mesmo? Pelo jeito o povão acha que não. Afinal eles compram a tal máquina. Pela espuma.
 
Tem também a máquina de fazer pipoca, uma outra de fazer pão – basta jogar a farinha e a água dentro e pronto. Depois de uma hora de barulho e desperdício de eletricidade temos um pão "des-saboroso" para apreciar –, e também, a fritadeira elétrica. Aí eu páro, penso um pouquinho e concluo que com uma panela – UMA panela – e um fogão – coisa que toda casa tem – eu consigo fazer café, caputino, pipoca, frituras e até um pãozinho (com uma forma de assar, claro) bem mais saborosos que suas versões elétricas. E tem mais, a panela é bem mais fácil de lavar. A tal fritadeira, que parece absurdamente genial – mas só se for para restaurante! – pois acredite, encher a tal com óleo, para fritar batatas uma vez por mês, não vale a pena. E repito, após um ano de uso, conclui-se que é impossível limpá-la adequadamente e a melhor solução é, sim, jogá-la pela janela.
 
Estes são apenas uns poucos exemplos da badulaqueira que esse povo chega a ter em casa. E tal acúmulo cego de inutilidades é apenas reflexo de uma sociedade que tem tudo o que precisa, e é obcecada por continuar consumindo, sem se importar com o real benefício das mercadorias que adquirem. Contando que a bugiganga seja ligeiramente diferente daquela que já têm, vale a pena comprar, pois é oferta, é barato, parece legal, ainda não temos, ou simplesmente porque tomar um caputinozinho com uma espuminha a mais não faz mal a ninguém.
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Ariadne Rengstl